Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, publicada nesta terça-feira (17), o novo ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), afirmou que, em algum momento, o país não conseguirá mais sustentar os direitos que a Constituição garante – como o acesso universal à saúde – e que será preciso repensá-los.
"Vamos ter que repactuar, como aconteceu na Grécia, que cortou as aposentadorias, e em outros países que tiveram que repactuar as obrigações do Estado porque ele não tinha mais capacidade de sustentá-las", afirmou Barros (foto ao lado).
Na entrevista, o ministro de Temer deixa claro que, no horizonte, defenderá o desmonte do SUS e o fortalecimento da saúde privada. Além disso, Barros fez papel de advogado dos planos de saúde privados ao criticar a "judicialização" a que as empresas seriam submetidas para cobrir procedimentos dos consumidores. Um ministro da Saúde deveria defender a saúde pública.
Para nós, da Admap, não há nada de errado com o Sistema Único de Saúde. Pelo contrário. O SUS é considerado um dos melhores sistemas de saúde pública do mundo. O problema mora na falta de recursos. Não custa lembrar que praticamente metade dos recursos do orçamento do país vão para o pagamento do serviço da dívida, verdadeiro ralo das contas públicas. A área da saúde fica com apenas 4%.
Para termos uma ideia, o orçamento do SUS conta com cerca de R$ 90 mensais por brasileiro. Isso é pelo menos dez vezes menos do que o valor destinado pelos sistemas de saúde dos países desenvolvidos e, por sinal, está muito abaixo das mensalidades cobradas por qualquer plano de saúde.
O sucateamento do SUS tem sido uma realidade nos últimos governos, inclusive o da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), que promoveu vários cortes no setor nos últimos anos.
Para piorar, a proposta de emenda à Constituição (PEC) nº 143 de 2015, conhecida como “DRU dos Estados", pode tirar R$ 35 bilhões da saúde pública em 2017. A estimativa é oficial e foi feita pelo Departamento de Economia da Saúde do Ministério da Saúde.
“É um absurdo querer sucatear ainda mais o SUS, como está propondo esse governo interino. Não podemos aceitar isso de maneira nenhuma. Assim como a gestão Dilma, o governo Temer não nos representa. Por isso, vamos lutar pelo seu fim”, disse o presidente da Admap, Lauro da Silva.
Rabo preso
Reportagem da Folha mostra que o ministro da Saúde teve a campanha eleitoral financiada em parte por um dos principais operadores de planos de saúde do país.
O empresário Elon Gomes de Almeida fez uma doação pessoal de R$ 100 mil à campanha de Ricardo Barros, em 2014. Almeida é presidente da Aliança, administradora de planos de saúde e registrada na ANS (Agência Nacional de Saúde Complementar), órgão regulador do setor e vinculado ao ministério de Barros.