O novo surto de Carlos Bolsonaro espelha as ideias autoritárias do pai. Jair foi eleito nas urnas, mas nunca escondeu o desprezo pela democracia. Em oito mandatos na Câmara, notabilizou-se por exaltar a ditadura, enaltecer torturadores e desdenhar a participação popular na política.
“Através do voto, você não vai mudar nada neste país. Nada, absolutamente nada”, declarou, em 1999. Na mesma entrevista, ele defendeu o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso, pregou o fechamento do Congresso e explicou o que faria se chegasse ao poder: “Daria golpe no mesmo dia. Não funciona”.
Na campanha presidencial, Bolsonaro deixou claro que suas convicções não mudaram. Ele ensaiou contestar a apuração dos votos em caso de derrota, insuflou seguidores contra a imprensa e afirmou que os rivais teriam que escolher entre a cadeia e o exílio. Em outro momento, ameaçou submeter o Supremo Tribunal Federal com a nomeação de dez ministros biônicos. O filho Eduardo foi mais direto: disse que só precisaria de “um soldado e um cabo” para fechar a Corte.
Ao vestir a faixa, Bolsonaro prometeu cumprir a Constituição, mas continuou a fazer a apologia do autoritarismo. Na semana passada, ele aproveitou uma solenidade para dizer que a ditadura foi “nota dez”. Um dia depois, expôs o país a novo vexame com elogios ao general Augusto Pinochet.
O exercício do poder ensinou ao capitão que a pregação golpista tem outra utilidade. Além de mobilizar eleitores radicais, ela serve para mascarar fracassos administrativos. Quando não consegue aprovar projetos, Bolsonaro ataca o Congresso e culpa a “velha política”. Quando vê sua popularidade cair, ofende os críticos e inventa inimigos externos.
O vereador Carlos recorreu à mesma fórmula em seu tuíte contra as “vias democráticas”. Ao escrever que “a transformação que o Brasil quer” não acontecerá pelo caminho institucional, o Zero Dois justificou a paralisia do governo e municiou os extremistas que o apoiam cegamente.
Carluxo tem a quem puxar.
Bernardo Mello Franco é jornalista de O Globo