As tratativas aconteceram bem longe da Rússia, mas o acordo para a criação de uma joint venture entre Embraer e Boeing pode ser considerado um dos maiores “dribles” praticados durante esta Copa do Mundo.
Com a criação de uma terceira empresa, reduziu-se a quase nada o poder que o governo brasileiro terá sobre a Embraer. Isto ocorrerá porque a ação golden share, que dá ao governo poder de veto sobre decisões da Embraer, não terá qualquer relação com a nova companhia.
A Boeing ficou com 80% da área de jatos comerciais, o “filé” da Embraer, responsável por 60% do faturamento. Para a própria Embraer sobraram os 20% restantes. A partir dessa formação, o governo passa a ter controle apenas sobre os setores de Defesa e aviação Executiva, que boa parte já está nos Estados Unidos.
Nada está garantido para o futuro da Embraer. Nem o desenvolvimento de novas aeronaves nem a manutenção dos cerca de 25 mil empregos diretos e indiretos que a empresa gera em nossa região.
A indústria aeronáutica nacional corre risco de perder espaço para centros com custos mais baixos, como China e Índia. Desta forma, em breve, São José dos Campos poderá ter apenas o Parque Santos Dumont como referência para o apelido de “terra do avião”.
É um crime de lesa-pátria o que está prestes a ser cometido contra o País. A Embraer está sendo mais uma vez saqueada, assim como ocorreu na privatização. Não vamos aceitar que o governo federal continue a trabalhar em benefício das grandes empresas e marque um gol contra o Brasil. Nossa luta tem de ser em defesa dos interesses do povo brasileiro.
Herbert Claros é diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região