Jair Bolsonaro não quer saber de dados e números. “Ao invés de financiar atos e ‘estudos científicos’ dos mesmos de sempre e ONGs, vamos destinar recursos para buscar solucionar os reais problemas do Brasil”, escreveu, no dia 13. Ele queria desdenhar de organizações que brigam pela preservação ambiental, mas acabou revelando o desprezo de seu governo pela ciência.
O presidente e seus ministros preferem basear suas decisões em achismos. Qualquer pesquisa técnica que se choque com suas convicções é rejeitada. Valem mais as teorias da conspiração e a cegueira ideológica de ex-astrólogos e youtubers.
Evidências produzidas pelo próprio governo são tratadas como lixo. Osmar Terra decidiu jogar fora um estudo de R$ 7 milhões sobre drogas feito pela Fiocruz. A pesquisa diz que o consumo no país não pode ser classificado tecnicamente como epidemia. O ministro não gostou.
“Andei nas ruas de Copacabana, e estavam vazias. Se isso não é uma epidemia de violência que tem a ver com as drogas, eu não entendo mais nada”, afirmou ao jornal O Globo. A caminhada do ministro na orla valeu mais que os três anos de pesquisa da Fiocruz, com 16 mil entrevistados.
Outro que deixou de lado o método científico é Augusto Heleno. O jornal Valor Econômico perguntou se o governo tem relatórios que comprovem a tal doutrinação ideológica nas escolas. “Nossa senhora! Tem muita coisa. Só WhatsApp e vídeo no YouTube tem uns 300”, disse. O general é chefe da Abin, mas baseia suas visões em correntes de zap.
Bolsonaro já distorceu dados oficiais do IBGE sobre desemprego, e seu ministro do Meio Ambiente questionou estatísticas do desmatamento. O único alento é que, até agora, o astronauta Marcos Pontes ainda reconhece que a Terra é redonda.
A desordem no governo é tão grande que Bolsonaro precisou escrever uma carta e pedir a assinatura de três ministros para convencer seus aliados a não sabotarem o Planalto.
Bruno Boghossian é articulista do jornal Folha de S. Paulo