Não é segredo para ninguém que o sistema de saúde no Brasil está doente – para utilizarmos um trocadilho bastante gasto, mas que, infelizmente, ainda serve bem. A população brasileira se sente completamente desamparada pelo poder público quando necessita de cuidar de si. Transforma-se em um martírio buscar tratamentos para doenças, realizar exames e conseguir se consultar com determinados especialistas.
A voz das ruas, registrada nas mega manifestações há alguns meses, clamou por um país melhor e, de Norte a Sul, com maior acesso à saúde pública. A situação é tão grave que o governo federal se viu obrigado a lançar o programa “Mais Médicos”, trazendo profissionais do exterior. Simpática aos olhos da opinião pública, a iniciativa não resolve o problema maior: o subfinanciamento da saúde em um país que compromete metade do seu orçamento anual com os agiotas da banca internacional.
Mas, se o acesso dos brasileiros aos serviços de saúde é muito problemático, a realidade enfrentada pela terceira idade é muito pior. Sem amparo adequado no sucateado serviço público, aposentados e pensionistas são obrigados, em muitas circunstâncias, a deixar de se alimentar adequadamente para pagar as altíssimas mensalidades dos planos de saúde – uma distorção, já que saúde pública é um dever do Estado previsto na Constituição.
Infelizmente, algo ainda mais terrível está acontecendo: a exclusão de idosos em muitos convênios médicos. Segundo matérias recentes veiculadas na imprensa, vários planos de saúde não aceitam mais a adesão de pessoas com mais de 59 anos. Outros, vão além e excluem esses clientes. As operadoras rejeitam ter na clientela pessoas idosas, que, como não poderia deixar de ser, necessitam de utilizar os serviços médicos com maior frequência. Assim, os mais velhos são vistos simplesmente como sinônimo de prejuízo. A absurda discriminação revela a nefasta lógica da saúde sendo tratada como negócio.
Embora lutemos por um sistema de saúde público, gratuito e de qualidade, é nosso dever denunciar essa situação e, de igual forma, a omissão da ANS (Agência Nacional de Saúde) e do governo federal. Não podemos mais permanecer calados assistindo esses crimes silenciosos. Basta da discriminação dos planos de saúde aos idosos! Basta dos idosos serem tratados como estorvos em nossa sociedade!
Lauro da Silva, presidente da Admap (Associação Democrática dos Aposentados e Pensionistas) do Vale do Paraíba