O PP exigiu o Ministério da Saúde para votar contra o impeachment. Não levou. Depois exigiu o Ministério da Saúde para votar a favor do impeachment. Levou.
A junta de salvação nacional entregou a pasta ao deputado Ricardo Barros. Ele não é médico, mas parece entender de operações. É tesoureiro do partido que tem mais políticos investigados pela Lava Jato.
O novo ministro estreou com uma polêmica. Em entrevista à Folha, disse que é preciso rever o tamanho do SUS. A repórter Claudia Collucci lembrou que o direito universal à saúde está previsto na Constituição.
"Nós não vamos conseguir sustentar o nível de direitos que a Constituição determina", respondeu Barros. Faltou explicar se a ideia é fechar hospitais ou cortar o fornecimento de remédios aos doentes.
Repreendido pelo Planalto, o ministro voltou atrás. Passou a dizer que o SUS é uma "garantia absoluta" do cidadão. No dia seguinte, novo susto. Barros declarou que não pretende fiscalizar a qualidade dos planos de saúde. "Ninguém é obrigado a contratar. Não cabe ao ministério controlar isso", afirmou, ao jornal "O Estado de S. Paulo".
O ministro parece indiferente aos pacientes, mas demonstra sensibilidade com os financiadores de campanha. Seu maior doador preside uma administradora de planos de saúde. A empresa é registrada na ANS, a agência federal criada para fiscalizar o setor. Será que ele já ouviu falar?
As ideias de Barros têm assustado profissionais da saúde. Em nota, o conselho da Fundação Oswaldo Cruz afirmou que suas declarações causam "profunda preocupação".
Para a professora Ligia Bahia, da UFRJ, "um bom ministro precisa pedir recursos e ser solidário com o sofrimento do povo". "Ele está fazendo o contrário", critica. A doutora já andava desanimada com os rumos do governo Dilma. Agora define o início da gestão Temer como "um desastre total". "Já é possível ver um golpe no SUS", alerta.
Bernardo Mello Franco é articulista do jornal Folha de S. Paulo