Os protagonistas da greve Edemir de Paula, o Passarinho, Ediberto Bernardo Santos, o Hiena, Ivo Soares Ferreira, da comissão de fábrica, e os ex-dirigentes do Sindicato Toninho Ferreira e Josias de Mello se emocionaram ao lembrar da tensão e força daqueles 28 dias de paralisação e ocupação (de 11 de abril a 8 de maio de 1985).
Sociólogo que trabalhava no Sindicato àquela época, Moacyr Pinto, autor do livro “Ação e Razão dos Trabalhadores da GM em São José dos Campos”, fez uma análise sobre a importância da greve para a cidade e para os trabalhadores do país.
Para ele, a greve de 85 na GM só foi possível graças ao sindicalismo classista que naquele momento surgia na cidade e que combatia o capitalismo de forma organizada, com comissões de fábrica, formação ideológica e articulação com os movimentos sociais. Isso tornou possível organizar uma greve longa e com ocupação, que enfrentou a recusa da montadora em negociar e a repressão militar, que tratou a mobilização como ato criminoso.
Repressão
A presença de agentes militares dentro da GM e de outras fábricas da região já foi comprovada pela Comissão da Verdade do Sindicato por meio de documentos do Cecose (Centro Comunitário de Segurança do Vale do Paraíba) e do testemunho de ex-funcionários da chefia da montadora, como o de Paulo Moreira, então gerente de Recursos Humanos da GM. Seu testemunho sobre como se deu a repressão após a greve, concedido à Comissão da Verdade dos Metalúrgicos, foi exibido durante o ato e indignou os participantes.
Após a greve, teve início um período de "caça às bruxas" na fábrica com mais de 400 trabalhadores demitidos e 33 companheiros processados criminalmente. A perseguição pela ditadura e pela empresa marcou para sempre a vida desses trabalhadores, que tiveram seus nomes incluídos nas chamadas “listas sujas” e amargaram anos sem conseguir emprego.
Para Hiena, um dos demitidos por participar da greve, a luta pela redução da jornada – uma das reivindicações dos trabalhadores – nunca foi fácil em todo mundo. “Esta sempre foi uma luta sangrenta”, lembrou o ex-metalúrgico.
Contar a história
Os participantes do ato também falaram sobre a importância de contar essa história para as novas gerações.
“Em função da ditadura, a cidade de São José dos Campos não conhece sua história vivida naquele período. Por isso, eventos como este são muito importantes para trazer a público os fatos que marcaram nossa história”, avaliou Moacyr.
O presidente do Sindicato à época, José Luiz Gonçalves, compareceu ao início do evento no Sindicato. Para ele, a greve de 85 na GM mudou a região e deve ser lembrada neste novo momento político que vivemos no país.
Para o ex-presidente do Sindicato e coordenador da Comissão da Verdade dos Metalúrgicos, Luiz Carlos Prates, o Mancha, aquela greve não foi apenas contra a exploração, mas também foi parte da luta da classe operária contra a ditadura no país. “Após a paralisação, a intenção da GM naquele momento era acabar com o Sindicato, mas eles não conseguiram”, afirmou.
“O Sindicato manterá viva essa história de luta, que permanece atual diante dos novos ataques da montadora e dos governos”, finalizou.
Fonte: SindmetalSJC
Foto: Roosevelt Cássio/Sindmetalsjc