Esse, inclusive, é o grupo de inadimplentes que mais cresceu em agosto deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado - com aumento de 8,56%. O dado é do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Isso ocorreu, sobretudo, devido ao empréstimo consignado. E se depender do governo, o percentual de idosos endividados deve aumentar, já que no último dia 15 a Câmara aprovou Medida Provisória 681, apresentada pelo Executivo para ampliar de 30% para 35% o limite de desconto em folha, conhecido também como crédito consignado, sendo que esses 5% a mais só podem ser usados para pagar dívidas com cartão de crédito.
Segundo o levantamento do SPC, enquanto a média de crescimento de devedores no país foi de 4,86%, o aumento de idosos endividados no período de um ano foi de 8,56% - a parcela de devedores entre 65 e 84 anos cresceu 8,32%; já entre 85 e 94 anos, a inadimplência está 10,47% maior.
“Esse aumento na inadimplência dos idosos pode ser explicado por dois motivos: primeiro porque eles têm uma participação menor (representam 8,82% dos devedores do país). Ou seja, qualquer alteração na faixa faz uma grande diferença. Segundo porque os idosos têm aumentado seu consumo”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Segundo ela, os idosos estão gastando mais, inclusive com eles mesmos e não só com a família.
Consignado
A economista ressalta ainda que o empréstimo consignado teve grande influência sobre o aumento dos endividados idosos neste período. “A renda que sobra é menor e, consequentemente, o idoso fica inadimplente em outras categorias de crédito”, revela, complementando que cerca de um terço da remuneração de aposentados e pensionistas pode ser comprometida em operações com o consignado.
De acordo com a advogada do Centro de Apoio ao Aposentado e Trabalhador (Cenaat), Vera Brigatto, essas dívidas podem ser explicadas pelos constantes financiamentos, que resultam numa bola de neve. “O aposentado deseja ajudar a família, mas o dinheiro não rende o suficiente. Então, muitos recorrem ao consignado. Como as contas e os juros estão mais altos, ele volta a tomar empréstimos, ampliando ainda mais a dívida”, comenta.
Para o especialista em Direito Previdenciário e presidente da Asaprev (Casa do Aposentado), Marcos Barroso, o consignado acaba atraindo as pessoas acima de 65 anos pois o acesso é fácil. Ele ressalta que o idoso - que já fora considerado um ‘fardo’ pelas famílias - hoje também paga as contas.
“A principal razão para o endividamento desta faixa é a perda do poder de compra. Com a crise, o desemprego faz com que os idosos se comprometam, ainda mais, com o orçamento da família”, diz.
Segundo ele, a população nordestina é ainda mais afetada pelos efeitos da recessão. Também por isso é a segunda região mais atingida pela inadimplência, perdendo apenas para o Sudeste.
Desvalorização
O presidente regional do Sindicato Nacional dos Aposentados, Nilson Baía, acredita que a inadimplência maior da faixa etária está ligada à desvalorização dos benefícios de aposentados.
“Se já não tínhamos dinheiro para pagar as contas antes, agora está pior. Quando a gente vê a dificuldade, corremos para ajudar nossos filhos, netos. Mas o salário não dá nem para os remédios, que ficam cada vez mais caros”, afirma.
De acordo com ele, quase 9 milhões de aposentados ajudam na complementação da renda da família no Brasil. “Não tem outra forma. Nos endividamos para tentar sobreviver”, completa.
Fonte: Correio24horas