O Jornal Nacional, da TV Globo, veiculou matéria que revela o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, que fica no Rio de Janeiro, onde morava a família Bolsonaro. Segundo ele, o ex-policial Élcio de Queiroz, acusado de ser o motorista que dirigiu o carro de onde saíram os tiros que assassinaram Marielle e Anderson, esteve horas antes do crime no condomínio onde morava Bolsonaro.
Na entrada do condomínio, Élcio alegou que iria à casa 58 de Bolsonaro, o que teria sido autorizado, segundo o porteiro, pelo “seu Jair” por interfone.
Ao entrar no condomínio, contudo, Élcio foi à casa 66, de Ronnie Lessa, ex-policial acusado de ser o responsável por ter feito os tiros. O porteiro relata que, novamente, ligou para a casa da família Bolsonaro e a mesma voz que ele identificou como sendo do “seu Jair” disse que sabia onde Élcio estava indo.
Toda essa movimentação aconteceu horas antes do crime ser consumado.
O livro de controle da portaria registra o nome do suspeito, a placa do carro e o número da casa de Bolsonaro (58) para onde ele alegou que se dirigia e de onde partiu a autorização de sua entrada.
O Jornal Nacional informou que, naquele dia, Bolsonaro estava em Brasília, o que está registrado no controle de presenças na Câmara. Ele também divulgou vídeos nas redes sociais.
A guarita do condomínio dispõe de equipamento que grava as comunicações feitas via interfone. A polícia tenta recuperar o áudio, para descobrir com quem, afinal, o porteiro conversou na casa de Bolsonaro.
Denúncia gravíssima
Demonstrando grande descontrole, Bolsonaro ainda na noite de ontem, mesmo estando na Arábia Saudita, em viagem oficial, fez uma “live” em sua rede social para rebater a reportagem do Jornal Nacional.
Denunciou perseguição da TV Globo e responsabilizou o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, pelo vazamento das informações. Ele ainda ameaçou a emissora com a não-renovação de sua concessão em 2022.
Mas, como diz o ditado popular, contra fatos não há argumentos. As bravatas de Bolsonaro não são suficientes. Bolsonaro precisa esclarecer quem e por que alguém em sua casa autorizou a entrada do suspeito de ser um dos executores de Marielle e Anderson.
O envolvimento do nome do presidente diretamente nas investigações sobre a execução de Marielle e Anderson é gravíssimo. Ainda mais quando já está comprovado a ligação de Bolsonaro e seus filhos com milicianos do Rio de Janeiro.
Uma das mais gritantes é a ligação de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, com ex-policiais e milicianos. O ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, por exemplo, teve a mãe e a esposa empregados como assessores de Flávio em seu gabinete por anos. Adriano, conhecido como “Caveira”, foi expulso da PM e comandava uma milícia em Rio das Pedras. Está foragido.
Segundo o Jornal Nacional, o Ministério Público do Rio de Janeiro informou ao STF (Supremo Tribunal Federal) do envolvimento do nome de Bolsonaro e questionou como proceder a continuidade das investigações. Até ontem, Dias Toffoli não tinha dado uma resposta.
“As relações da família Bolsonaro com milicianos são cada vez mais preocupantes e agora a vinculação do nome do próprio presidente nas investigações é gravíssimo. É preciso que isso seja apurado urgentemente”, avalia o integrante da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Luiz Carlos Prates, o Mancha.
“Mais de um ano e meio depois, a pergunta quem mandou matar Marielle não foi respondida pelos governos e tudo indica que há muitos poderosos envolvidos nesse crime”, afirmou também.
“Em relação à Fabrício Queiroz, as investigações estão paralisadas pelo STF, favorecendo Flávio Bolsonaro. Isso é inadmissível. O assassinato de Marielle e Anderson, o caso Queiroz, o envolvimento de Bolsonaro no caso. Essas situações não podem ficar sem esclarecimento e solução. É preciso tomar as ruas para exigir justiça para Marielle e Anderson. Os criminosos devem ser identificados e responsabilizados”, concluiu Mancha.
Fonte: CSP-Conlutas