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Os aposentados e as eleições presidenciais

Os aposentados e as eleições presidenciais
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Lauro da Silva

No dia 5 de outubro, milhões de brasileiros utilizaremos as pontas dos dedos para digitar os números dos nossos candidatos a presidente e governador, além dos nossos escolhidos para os cargos de deputado federal, deputado estadual e senador. As eleições deste ano ocorrem sob uma atmosfera de cansaço da população com a política conduzida por quem tem a caneta na mão. Tanto isso é verdade que, entre os presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas, o mote “mudança” é utilizado à exaustão. Essa percepção chegou, inclusive, à equipe de marketing da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), que lançou o slogan “muda mais”, sugerindo que a mudança já estaria em curso. Nada mais falso – permitam-me advertir.

Assim como o conjunto da população, os quase 30 milhões de aposentados e pensionistas exigem mudança. Além da precariedade dos serviços públicos e a corrupção desenfreada, cujos efeitos têm reflexos na vida de todos os brasileiros, os beneficiários do INSS sofrem com um sistemático achatamento em seus benefícios, fruto da política que concede às aposentadorias reajustes minguados, inferiores aos do salário mínimo. Outro forte ataque é o fator previdenciário, que reduz drasticamente os benefícios no momento em que são concedidos.

Infelizmente, Dilma, Marina e Aécio não demonstram ter a mínima vontade, uma vez dando expediente no Palácio do Planalto, de fazer justiça aos aposentados e pensionistas. A atual presidente, responsável direta pela atual situação de penúria em que vivemos, já disse que não vai acabar com o fator previdenciário. No poder, o PT seguiu a política neoliberal herdada dos tucanos e, em 2003, sob o comando de Lula, aprovou uma reforma da Previdência com forte investida contra os direitos dos servidores públicos.

Já Aécio Neves é do mesmo PSDB de Fernando Henrique Cardoso, presidente que chamou os aposentados de “vagabundos” (às vezes, nossa memória é curta) e promoveu grandes ataques, como a criação do próprio fator previdenciário, impulsionada pela reforma da Previdência imposta em 1998. Em campanha, Aécio prometeu dar reajuste acima da inflação a aposentados e pensionistas baseado no aumento dos medicamentos, mas não detalhou como seria a fórmula, que além de absolutamente insuficiente para repor as nossas perdas, não passa de jogada eleitoral.

Alçada à condição de nova favorita por muitos, Marina Silva (PSB) é vista como uma opção pelo “novo”. Por trás dos belos discursos, no entanto, existe uma candidatura cheia de contradições e que é assessorada por gente preocupada, primeiramente, em atender as vontades de empresários e banqueiros, com medidas como a independência do Banco Central assegurada em lei. Marina nada falou, até o momento, sobre o aumento das aposentadorias, o fim do fator que reduz nossos vencimentos ou da desoneração da folha de pagamento, que tira dinheiro da Previdência para dar aos patrões.    

Diante desse amargo diagnóstico, não podemos alimentar falsas esperanças nestes nomes. Acima de tudo, dependemos da força que temos e, por vezes, desconhecemos. Nossa indignação precisa se transformar em vontade de se mobilizar, de ir às ruas e exigir do governo, seja ele qual for, respeito aos direitos de quem contribuiu a vida inteira pela construção do nosso país.

Lauro da Silva, presidente da Admap (Associação Democrática dos Aposentados e Pensionistas) do Vale do Paraíba