A reportagem conduzida pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), publicada primeiramente pelo diário alemão Süddeutsche Zeitung e depois distribuída à imprensa mundial, revela uma parte do funcionamento do shadow banking, ou seja, a “financeirização sombra”.
Os arquivos que vazaram foram revisados por uma equipe de 370 jornalistas de 76 países. A lista é imensa e expõe entranhas da corrupção mundial. Autoridades de inúmeros países estão envolvidas. O pai do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, o presidente argentino, Mauricio Macri, os primeiros ministros do Paquistão e da Islândia, o rei da Arábia Saudita, os filhos do presidente do Azerbaijão, a família do presidente da China, Xi Jinping, diversos esportistas, artistas e outros. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, aparece como mandatário de contratos de amigos.
Segundo a dirigente da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas Joaninha Oliveira, esse vazamento gigantesco de nomes relacionados a paraísos fiscais mostra o quanto os sistemas político e econômico mundial estão corrompidos. “É um processo de corrupção, de lavagem de dinheiro generalizado no capitalismo. Em decorrência disso, são os trabalhadores dos diversos países que pagam essa conta, porque, diante da crise, há cortes em áreas sociais, investimentos públicos e direitos trabalhistas, mas o dinheiro dos ricos continua chegando aos paraísos fiscais; só nós sangramos”, disse Joaninha.
Brasil dentro da lista
O Brasil não está fora dessa lista. Há políticos de ao menos sete partidos com contas em empresas offshores no exterior abertas pela Mossack Fonseca. Já apareceram nas listas PMDB, PSDB, PDT, PP, PSB, PSD e PTB. Apareceu o nome de ao menos 57 brasileiros. Aliás, são pessoas já relacionadas a investigações da Polícia Federal.
Os brasileiros citados estão em mais de 100 offshores criadas em paraísos fiscais. Um deles, o que não é nenhuma surpresa, é presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). É claro que nega, mas se refletirmos um pouco, Cunha é réu no Supremo Tribunal Federal por seu envolvimento na Lava Jato e também é acusado pela Procuradoria Geral da República de ter contas secretas no exterior. Lembram-se da conta no banco da Suíça? Pois é, difícil não ter sonegação ou lavagem de dinheiro nessa história.
Também temos o senador Edison Lobão (PMDB-MA), seu filho Luciano Lobão e outros do PMDB que são considerados operadores deste partido na Lava Jato. Além desses, o ex-deputado João Lyra (PSD), o deputado federal Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) e seu pai Newton Cardoso.
O tucano Sérgio Guerra, ex-senador e ex-presidente nacional do PSDB morto em 2014 também aparece na lista da Mossack Fonseca. Ele já foi citado por delatores da Lava Jato como destinatário de propinas relacionadas ao esquema de corrupção da Petrobras. E há muito mais!
A análise dos documentos também concluiu que algumas das empresas offshore operadas pela Mossack estão vinculadas a grandes empreiteiras brasileiras.
Enquanto isso, é bom lembrar que somente em 2015 o Brasil perdeu mais de R$ 420 bilhões somente em sonegação de impostos, segundo o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz).
“É por isso que afirmamos nenhum deles serve para governar nosso país, são corruptos e governam, juntamente com os empresários, de acordos com os próprios interesses, por isso temos que construir uma alternativa na luta dos trabalhadores”, diz Atnágoras Lopes, membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas.
Esses absurdos revelam a face perversa, egoísta e acumulativa do capitalismo. Enquanto milhões de pessoas sofrem com a miséria, a fome, o desemprego, as epidemias e a ausência das mínimas condições de sobrevivência, a burguesia rapina os Estados, roubando descaradamente os impostos e a riqueza produzida pela classe trabalhadora.
A humanidade precisa de outro sistema e de sociedade, justa e igualitária, sem exploradores nem explorados. A humanidade precisa de uma revolução socialista para reverter a lógica da barbárie capitalista.
Fonte: CSP-Conlutas