Na verdade, o pensamento é de ninguém menos que o próprio ministro da Saúde, Ricardo Barros, que disse, na semana passada, que a maioria dos pacientes que procuram atendimento em unidades de atenção básica da rede pública apenas "imagina" estar doente, mas não está.
A opinião de Barros veio à tona após a publicação de uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo, que cobriu evento na sede da AMB (Associação Médica Brasileira), em São Paulo, na sexta-feira (15), em que o ministro participou.
De acordo com o titular da pasta da Saúde no governo Temer, é "cultura do brasileiro" só achar que foi bem atendido quando passa por exames ou recebe prescrição de medicamentos, e esse suposto "hábito" estaria levando a gastos desnecessários no SUS (Sistema Único de Saúde).
"A maioria das pessoas chega ao posto de saúde ou ao atendimento primário com efeitos psicossomáticos. Por que 50% dos exames laboratoriais não são retirados pelos interessados? Por que 80% dão resultado normal? Por que foram pedidos sem necessidade", disse Barros, durante o evento.
Querem privatizar o SUS
A mais recente fala de Ricardo Barros é coerente com o que ele falou logo após a posse do governo interino de Michel Temer, em março. Na ocasião, o ministro disse que o tamanho do SUS deveria ser repensado, uma vez que o país, no futuro, não conseguiria mais sustentar os direitos que a Constituição garante, como o acesso universal à saúde.
Naquela oportunidade, o ministro da Saúde deixou claro que, no horizonte, defenderá o desmonte do SUS e o fortalecimento da saúde privada, que defendeu como se fosse advogado ao criticar a “judicialização” a que os planos de saúde seriam submetidos para cobrir procedimentos dos consumidores.
Barros, que é deputado federal eleito pelo PP, teve a sua campanha eleitoral financiada por planos de saúde.
Defender o SUS
Não há nada de errado com o Sistema Único de Saúde. Pelo contrário. O SUS é considerado um dos melhores sistemas de saúde pública do mundo. O problema mora na falta de recursos. Não custa lembrar que praticamente metade dos recursos do orçamento do país vão para o pagamento do serviço da dívida, verdadeiro ralo das contas públicas. A área da saúde fica com apenas 4%.
Para termos uma ideia, o orçamento do SUS conta com cerca de R$ 90 mensais por brasileiro. Isso é pelo menos dez vezes menos do que o valor destinado pelos sistemas de saúde dos países desenvolvidos e, por sinal, está muito abaixo das mensalidades cobradas por qualquer plano de saúde.
O sucateamento do SUS tem sido uma realidade nos últimos governos, inclusive o da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), que promoveu vários cortes no setor nos últimos anos.
“Assim como quer privatizar a Previdência pública, o governo quer aprofundar a entrega da saúde aos barões dos planos de saúde. Isso não podemos aceitar de forma alguma. É preciso defender a saúde pública, gratuita e de qualidade”, disse o presidente da Admap, Lauro da Silva.