Nesta quarta-feira (8) completam-se 30 dias da versão brasileira da invasão do “Capitólio”, protagonizada por manifestantes de extrema direita, com financiamento e coordenação de políticos, empresários e militares bolsonaristas.
A clara tentativa de resultar em um golpe não foi vitoriosa, mas deixou um rastro de destruição sem precedentes e confirmou os planos antidemocráticos da ultradireita no Brasil.
A invasão e depredação do Congresso, STF (Supremo Tribunal Federal) e o Palácio do Planalto deixou marcas até hoje nos prédios dos Três Poderes e um prejuízo aos cofres públicos de mais de R$ 20 milhões, segundo estimativas.
Até agora, as investigações apontam uma clara tentativa de golpe, que foi planejada e colocada em prática desde a derrota eleitoral de Bolsonaro, numa escalada de ações que contou com bloqueios violentos de estradas; atos em frente a quartéis e áreas militares e ações terroristas, como a tentativa de explosão de um caminhão de combustível no aeroporto de Brasília e sabotagem em torres de energia.
As investigações não deixam dúvidas ainda do envolvimento direto de Bolsonaro no planejamento e incitação dos atos, bem como de militares bolsonaristas.
Prisões
Mais de 1.400 pessoas foram presas em razão da participação nos ataques. Após as audiências de custódia, o STF converteu 942 detenções em prisões preventivas. Já na Operação Lesa Pátria da Polícia Federal foram expedidos 20 mandados de prisão e a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou denúncia contra 653 suspeitos.
A AGU (Advocacia-Geral da União) pediu o bloqueio de R$ 20,7 milhões em bens de 92 pessoas e 7 empresas pela participação nos atos.
A exigência de punição, sob o lema “Sem anistia”, tem sido a marca de manifestações sociais e de vários setores da sociedade civil. Contudo, os que poderiam ser chamados de “peixes graúdos” ainda não foram punidos.
A exceção foi a demissão do comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, no dia 21 de janeiro, e a prisão de Anderson Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal no dia dos ataques e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro.
Mas a punição a militares, principalmente do Exército, segue tímida. Dos 21 policiais militares, bombeiros e oficiais das Forças Armadas identificados com a participação nos atos de 8 de janeiro, apenas 12 estão presos, segundo apurou O Globo.
Envolvimento de Bolsonaro
Ao mesmo tempo, o cerco a Bolsonaro vai se fechando com cada vez mais indícios de sua participação. O fato mais recente foi revelado, na semana passada, pelo senador bolsonarista Marcos do Val (Podemos-ES), que declarou que Bolsonaro participou de um plano para tentar gravar de forma clandestina o ministro do STF e presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Alexandre de Moraes com a intenção de impedir a posse de Lula.
Em outro episódio, na casa de Anderson Torres foi encontrada a minuta de um decreto para instaurar Estado de Defesa no TSE e tentar anular o resultado das eleições.
O STF já incluiu o ex-presidente (que segue nos Estados Unidos) no inquérito sobre a autoria dos atos golpistas. A Corte acatou pedido apresentado pela PGR e por mais de 80 integrantes do Ministério Público Federal, que denunciaram um vídeo postado por Bolsonaro após a invasão em Brasília em que o resultado das eleições é novamente atacado, sem provas. Horas depois de publicar nas redes sociais, Bolsonaro apagou a publicação.
Sem anistia!
A CSP-Conlutas defende a prisão, punição e expropriação de bens de todos os organizadores, articuladores e financiadores das ações golpistas da ultradireita, a começar por Bolsonaro e sua família, bem como das forças policiais e militares envolvidas na tentativa de golpe.
A Central defende que somente a classe trabalhadora mobilizada pode garantir a prisão e punição a todos os golpistas, e, principalmente, a derrota definitiva da ultradireita.
A conivência de forças de segurança diante dos ataques ocorridos em 8 de janeiro, que, ao invés de impedir a invasão, em vários momentos ficou demonstrado que foi omissa ou ajudou na ação, confirma que não se pode confiar que as instituições contaminadas pelo bolsonarismo ou mesmo conciliadoras sejam consequentes na punição aos golpistas e no enfrentamento com a ultradireita.
“O caminho da conciliação e negociação com a ultradireita é um grande equívoco e só ajuda esse setor a se manter ativo, alimentando a sanha golpista dos bolsonaristas mais radicais”, afirmamos em nota divulgada ainda no dia 8 de janeiro.
Por fim, é preciso que o movimento sindical e popular do país avance em iniciativas de organização da autodefesa da classe trabalhadora para enfrentar as milícias de ultradireita e seus métodos fascistas.
Fonte: CSP-Conlutas