Em entrevista reveladora ao Intercept Brasil, na sexta-feira (19), o deputado bolsonarista Delegado Waldir (PSL) explicou com detalhes como funciona o chamado Bolsolão. Sem qualquer pudor, o parlamentar confirmou a compra de votos através do orçamento secreto e foi enfático sobre quem governa o país: “é o Lira, não é o Bolsonaro”.
Seja para articular votações ou blindando o presidente de 130 pedidos de impeachment, Arthur Lira (PP), é peça-chave para a manutenção do governo. O substituto de Rodrigo Maia (DEM) foi eleito neste ano, em primeiro turno, e sua efetivação no cargo ocorreu na base do toma lá, da cá.
Segundo Waldir, foram oferecidos R$ 10 milhões para ele e cada um de seus companheiros de sigla para votarem em Lira. Para estar forte no balcão de negócios que se estabeleceu para a compra dos votos, o governo lançou mão do orçamento secreto. A tática viria a ser utilizada em inúmeras votações na seqüência, incluindo a aprovação da PEC dos Precatórios.
Mas afinal de contas, o que é o orçamento secreto? Trata-se de um esquema bilionário de emendas destinadas aos parlamentares que ocorre sem qualquer transparência, conforme a decisão do relator do Orçamento.
Ao invés dos ministérios destinarem os recursos, neste caso, todo dinheiro, concentra-se nas mãos de Lira e Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado. Na prática, é um poderoso mecanismo para compra de parlamentares.
Pela falta de transparência na distribuição das quantias, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu, em novembro, que o sistema deve ser suspenso. A ação tem caráter liminar. No entanto, estima-se que a prática já tenha movimentado mais de R$ 18 bilhões somente em 2021. O que garante a Lira o posto, informal de “primeiro ministro” ou chefe da quadrilha.
Waldir ainda entregou que os líderes de bancadas recebem o dobro em relação aos deputados comuns e que o esquema já está no ar a mais tempo do que se imaginava. Antes mesmo da eleição de Lira, quando se votou a reforma da Previdência, Waldir, então líder do PSL, teria direito à R$ 40 milhões para votar pela proposta que acabou com direitos de milhões de brasileiros.
Fica cada vez mais claro que Bolsonaro, que se elegeu criticando o “sistema”, está afundado em práticas corruptas. Da mesma forma que os governos petistas se enfiaram na lama para garantir o apoio de deputados nas votações, o ex-capitão do exército, que por décadas se aproveitou do esquema ainda enquanto deputado.
O exemplo da PEC dos Precatórios
Atualmente no Senado, a PEC 23 ou PEC dos Precatórios mostrou como Lira utiliza-se deste orçamento para fazer avançar na Câmara temas polêmicos e de interesse do governo. Bolsonaro precisava abrir uma brecha no teto de gastos para bancar seu Auxílio Brasil, benefício considerado por muitos como única maneira de se reeleger em 2022.
Através da medida, também chamada de PEC do Calote foi possível garantir o dinheiro necessário para bancar o benefício eleitoreiro sem com que Bolsonaro caísse no crime de improbidade administrativa. Mas qual foi o preço disso tudo? Mais de 900 milhões do orçamento secreto foram utilizado para que os deputados apoiassem a proposta.
PEC 32 é o próximo alvo
Na última semana, Lira foi às redes sociais dar um recado a equipe de Bolsonaro. Se quiser que a Reforma Administrativa seja votada ainda neste ano, o governo precisa se mobilizar. No entanto, engana-se que o deputado espera que o governo atue convencendo os parlamentares que o desmonte do serviço público é um bom negócio.
A mobilização que Lira deseja é o aval para sair distribuindo emendas novamente. Pessoas próximas ao Planalto já afirmaram que até R$ 6 bilhões poderão ser repassados aos deputados favoráveis ao texto. Isso significa que cada um deles receberia uma quantia próxima dos R$ 20 milhões. O valor é bem próximo dos informados por Waldir na entrevista ao Intecept.
Fonte: CSP-Conlutas