Leonardo Sakamoto

Opinião: Bolsonaro lutava por joias enquanto golpistas lutavam por ele após derrota

Opinião: Bolsonaro lutava por joias enquanto golpistas lutavam por ele após derrota
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Leonardo Sakamoto

Os maiores esforços de Jair Bolsonaro para liberar R$ 16,5 milhões em joias dadas pela Arábia Saudita ocorreram enquanto seus seguidores mais fiéis tomavam chuva em seu nome, em acampamentos nas portas de quartéis, pedindo golpe militar.

Enquanto fazia silêncio publicamente, evitando reconhecer a derrota para Lula e alimentando o golpismo, Bolsonaro agia nos bastidores como se compreendesse que o fim estava próximo. Tanto que passou a usar toda pressão à sua disposição para que a Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos liberasse os diamantes.

A ditadura da Arábia Saudita deu joias no valor de R$ 16,5 milhões para Michelle Bolsonaro e um estojo com relógio, abotoaduras, entre outros artigos, valendo cerca de R$ 400 mil ao então presidente, aponta investigação do jornal O Estado de S.Paulo.

A razão para isso ninguém sabe ainda, mas as possibilidades vão de suborno à propina. Uma comissão no Senado deve investigar se há relação entre os cerca de R$ 17 milhões em produtos e a venda de uma refinaria aos Emirados Árabes, vizinhos da Arábia Saudita.

Assessores do presidente conseguiram passar o estojo sem que ninguém soubesse, e mantiveram-no escondido de outubro de 2021 a novembro do ano passado. Ele já reconheceu que o produto está em seu poder. Já as joias permaneceram no aeroporto.

Pelas regras do serviço público, presentes nesse valor precisam ser incorporados ao patrimônio do país. Jair, contudo, preferia incorporá-los ao patrimônio de sua residência no Condomínio Vivendas da Barra, no Rio.

Após a derrota para Lula, ele usou o comando da Receita Federal e o gabinete da Presidência da República para pressionar os auditores.

Sua última tentativa foi no dia 29 de dezembro, quando o primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva foi enviado em um avião da FAB para tentar recuperá-las. Graças à honestidade dos servidores e à estabilidade do serviço público, que garante proteção para o cumprimento da lei, ele não conseguiu.

No dia seguinte à última tentativa fracassada, Jair fez uma live aos seus seguidores dando tchauzinho. Logo depois, fugiu para Orlando, na Flórida, para evitar ser responsabilizado pelos atos golpistas que ocorreriam nove dias depois, e vandalizariam o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF.

Na live, chorou. A questão é se estava pensando na derrota, no autoexílio com medo da prisão ou nos diamantes perdidos.

Mas quem pensa que seus seguidores sentem-se traídos está enganado. Um naco da extrema direita está dando um duro danado nas redes sociais para minimizar que ele surrupiou o estojo com produtos de luxo e tentou afanar as joias. Ironicamente, o grupo é o mesmo que costuma celebrar quando alguém que furtou um bife por causa da fome é espancado no supermercado.

Leonardo Sakamoto, jornalista e articulista do UOL